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Zunzum

 

Antigamente, uma das maneiras mais eficazes de manchar a reputação e a dignidade das pessoas era lançar mão do chamado método do zunzum.

Qualquer zunzum deixava sempre marcas nas vítimas escolhidas, muitas delas gente inocente que alguém, por inveja, ciumeira, pura malvadez, ou por qualquer outra mais ou menos infame razão, pretendia enxovalhar.

Nos tempos que passam, os zunzuns brotam de todo a parte, com tão elevada frequência e amplitude que o seu efeito demolidor de outrora quase se desvaneceu.

Há, hoje, excesso de zunzuns o que faz com que se tenham vulgarizado entrando nos nossos hábitos, e, em vez de espanto e surpresa, não mais produzam que indiferença ou leves sorrisos muito lisos sem rugas.

Da fama já não se livra”, “Não há fumo sem fogo”, “Está-me a cheirar a esturro” dizia outrora o povo, entre outras coisas do género, quando alguém, até aí considerada pessoa digna e insuspeita, aparecia envolvida num qualquer zunzum.

Os que hoje se movem pomposa e impunemente entre múltiplos e variados zunzuns, alguns aparentemente contraditórios que se baralham e parecem anular entre si, saem normalmente incólumes e muitas vezes até em glória, entusiasticamente aclamados de pé, no meio de fortes e bem batidos abraços dos seus apaniguados, dedicados amigos de convivência e conveniência. Neste aspecto, a coisa não mudou muito. Lembram-se das fervorosas e espontâneas manifestações de repúdio do antigamente? Estou a vê-los!

Adaptando-se aos tempos, já muitos se esqueceram daquelas velhas sentenças que as circunstâncias puseram fora de moda e novas sentenças actualizadas se foram criando: “Os de fama todos se livram”, “Fogo alto fumo engole”, “Esturro de fino não deita cheiro”.

Achavam mesmo que o povo era assim tão parvo?!

 

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